quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A cor da pele no Chão de Fábrica

Pedro Paulo em ação

Pedro Paulo da Silva, diretor executivo do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Tenho orgulho de ter nascido, sido criado e ainda viver vinculado à base da pirâmide social brasileira. 
É uma maneira diferente de me apresentar para vocês e confirmar que sou um trabalhador brasileiro, temperado na luta sindical e que aprendi a conviver de maneira pró-ativa com os meus companheiros e companheiras do Chão de Fábrica.
Aprendi, também, a ampliar a organização e disciplina do Chão de Fábrica  para os bairros e vilas, campos de futebol, botecos e rodas de samba. No meio do povão, sou peixe dentro d’água. 
E por isso eu sei que a cor da pele, a raça, a região do Brasil na qual fomos criados se dilui tudo na necessidade imperiosa de colaborarmos, uns com os outros pela sobrevivência. Dentro e fora de uma fábrica.
Seja no Chão de Fábrica, seja nas periferias, nas favelas ou nos cortiços a vida é duríssima. Mas nossos ancestrais descobriram como contornar a violência dos escravocratas, o desmando de alguns chefes, a exploração continuada de nossa mão de obra com muita troca de ideias e com a solidariedade irrestrita uns aos outros.
Quem tiver a oportunidade de percorrer uma linha de produção verá o Brasil real gerando riquezas. Todas as cores, religiões, hábitos, jeito de falar estão ali. Todos se respeitam porque sabemos que somos elos essenciais da cadeia produtiva.
Mas quando saímos do Chão de Fábrica e olhamos para a televisão temos a impressão de estar em turismo em algum país nórdico, que controla alguma colônia do terceiro mundo. Aos negros, são delegados os papéis secundários, com honrosas exceções. Aos nordestinos, índios, sulistas e gente do campo cabem apenas os estereótipos.
Mesmo sentindo o impacto da exclusão não temos tempo para frustração, porque no dia seguinte, no Chão de Fábrica, retomamos o vigor de nossa importância produtiva e social. Ali, provamos valor e somos parte integrante da riqueza gerada.
Talvez nos falte o hábito de pressionar as instâncias democráticas que existem do lado de fora da fábrica. Exigir tratamento igual para todos nós. Mas já temos feito isso sem muito resultado.
Por isso, a partir de espaços como este, vamos nos organizar para impor, com o poder de nossos bolsos combinados, com a energia concentrada em nossas carteiras de trabalho e o vigor de nossos títulos eleitorais uma radical mudança na sociedade brasileira.
Começamos hoje a construir um novo Brasil, em que o trabalhador e trabalhadora, seja integralmente respeitado. Tendo oportunidades iguais não apenas para ser mais um braço mas principalmente para ser mais um cérebro. Exigiremos boas escolas, boa saúde, bom respeito para todas as raças, regionalismos e religiões que hoje pulsam no Chão de Fábrica.

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