segunda-feira, 25 de julho de 2011

Humanizar o Chão de Fábrica

Por Sivaldo da Silva Pereira, o Espirro, secretário geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

O Chão de Fábrica de qualquer empresa, pequena ou grande, nacional ou multinacional, é um excelente ambiente para a integração e formação dos trabalhadores.
Encontramos no Chão de Fábrica amostras do Brasil inteiro. Gente de todos os cantos do País, com diferentes sotaques, religiões e raças. É ali, na fermentação continuada, na camaradagem  e, até mesmo, algumas pequenas maldades que o trabalhador ou trabalhadora tem sua vivência ajustada ao ambiente de grande responsabilidade, com uma disciplina rigorosa e que exige, de cada um, perceber como pode ajudar o conjunto.
Até se confirmar que é hora do fim do expediente. O corpo cansado e a alma exausta nos faz sair do Chão de Fábrica aliviados. Vamos para casa em busca de repouso ou do carinho dos nossos cônjuges, filhos e filhas. Pregados, nos anestesiamos diante de um aparelho de tevê e relaxamos para recuperar a energia para a batalha do dia seguinte que já sabemos continuará brava.
Muitos de nós esquecemos, infelizmente, que é nestas horas vagas, após ou antes do expediente, que temos condições de humanizar nossas vidas no Chão de Fábrica.
Enquanto nos submetemos à rotina, nos tornamos apenas máquinas e números no registro funcional da empresa. Podemos, portanto, ser trocados por outros trabalhadores que receberão salários menores para nos substituir. E, como números apenas, os computadores da empresa avaliarão o quanto pesamos na folha de pagamento em vez de calcular, também, o quanto somamos às riquezas geradas para a organização.
Mas se carregarmos para fora da empresa a energia que acumulamos no Chão de Fábrica, como muitos companheiros e companheiras já o fazem, a história pode mudar a nosso favor, rapidamente.
Se aproveitarmos nosso tempo livre para conviver com nossos vizinhos e amigos em qualquer atividade social, seja na igreja, no clube ou no sindicato, vamos acumular musculatura social. Ganharemos também voz e combinaremos o vigor de nossa carteira de trabalho com nosso título eleitoral.
Conseguiremos, aos poucos, tornear a cidadania dentro e fora da linha de produção. E transferir para o Chão de Fábrica a mesma gentileza com que nossos colegas nos tratam na igreja, no sindicato ou no clube. Garantiremos, também, direito a opinar sobre os destinos da companhia pois temos a legitimidade de quem entrega a vida para o sucesso da empresa.
Falta o quê então para atingirmos este novo patamar? Pouco, muito pouco. É só deixar cair a ficha e levar para o Chão de Fábrica a mesma humanidade que exercitamos do lado de fora.
Para a gente trabalhar duro mas sem perder a ternura e a civilidade que praticamos quando estamos junto com nossa família, amigos e vizinhos. E mostrar, assim, para os patrões e para os executivos da empresa, que ganharão muito mais se nos ouvirem e humanizarem o Chão de Fábrica.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Organizar em movimento

Por Sivaldo da Silva Pereira, secretário geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Atribui-se a Ulysses Guimarães a frase de que devemos discutir política tendo como referência o movimento das nuvens. A realidade muda a todo momento e faz evaporar a certeza de um minuto atrás.
No nosso dia a dia, como cidadãos e trabalhadores, esta lição se aplica com muito mais vigor. Somos a linha de frente do Brasil. E colocamos, de verdade, a mão na massa para transformarmos matérias primas em mercadorias. Cuidamos das pessoas com os serviços que prestamos. Interagimos com grande intensidade com uma realidade que muda tão rapidamente quanto as nuvens.
Com as consequências que podem se traduzir em fases boas e em ameaças à nossa economia e ao nosso emprego.
Por isso, quando insistimos em discutir Chão de Fábrica e Cidadania é para nos educarmos para uma avaliação continuada de nossa realidade e estarmos sempre preparados para contornar surpresas desagradáveis.
Nos aproximamos de um segundo semestre de grandes mobilizações a favor dos nossos salários, enquanto que a economia brasileira se vê às voltas com os juros mais altos do mundo.
O Brasil percebeu a importância de os trabalhadores terem participado com seus salários do consumo interno na crise financeira mundial de 2009. Com a nossa sustentação do mercado interno, transformamos o tsunami numa marolinha, como nos explicava o ex-presidente Lula.
Agora, com a permanente ameaça da inflação, com os juros lá em cima e com uma nova crise mundial se desenhando, precisamos conversar muito, trocar muita ideia para que não sobre apenas para os trabalhadores as consequências da próxima crise mundial, real ou imaginária.
Sim, pois nós trabalhadores do Chão de Fábrica somos, muitas vezes, condenados a pagar as contas antes mesmo que as crises aconteçam. Estimulados pelo clima de falta de patriotismo e de pessimismo que infesta a grande imprensa, os patrões que só pensam nos próprios umbigos transformam ameaças em desemprego e retiram dinheiro da economia para os próprios bolsos.
Mas também já somos capazes de grandes mobilizações cívicas. E vamos alavancar nossa energia transformadora do chão de fábrica em ações que mostrem para os patrões e para os governos federal, estaduais e municipais, que precisamos ser continuadamente ouvidos.
A realidade muda, reconhecemos. Mas não deve mudar sempre para piorar a vida dos trabalhadores.


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Mão na massa e massa de manobra

Por Sivaldo da Silva Pereira, o Espirro

Desde 1985, com o fim da ditadura militar, cumprimos todos os rituais democráticos.
O Congresso Nacional, as Assembléias Legislativas e as Câmaras Municipais são renovados a cada quatro anos. Período em que substituímos também os membros dos respectivos poderes executivos no País, nos Estados e nas Prefeituras.
Os rituais entre os poderes Judiciário, Executivo e Legislativo funcionam com alguma precariedade, mas funcionam. E o exercício livre e soberano do voto nos enche de orgulho.
Mas...
Mas continuamos longe da democracia plena. Porque ainda estamos submetidos ao atraso que se acumulou por centenas de anos de um regime escravocrata e de um período recente, desde 1889, de respiros democráticos e sufocos ditatoriais.
Temos, ainda, contra a prática saudável e harmônica da democracia, a defasagem premeditada em nossos sistema educacional. Convivemos, infelizmente, com 75% de analfabetos funcionais. Além disso, trabalhamos demais e vivemos longe demais dos empregos.
O resultado é um cansaço físico e a falta de tempo que muitas vezes nos excluem da participação direta em eventos democráticos de nosso interesse, como cuidar da qualidade da escola, vigiar o posto médico e exigir mais segurança pública.
As deficiências naturais da nossa democracia têm levado parte de nossa elite econômica, social e política a tentar usar os que colocam de verdade a mão na massa para gerar as riquezas em massa de manobra dos seus interesses, muitas vezes inconfessáveis.
Por isso, desenvolveram um sistema pronto para se prometer com a certeza de que não se cumprirá. É o que acontece, muitas vezes, dentro das fábricas e, também, nos relacionamentos entre políticos e seus eleitores. Em vez de se respeitar quem coloca a mão na massa, existe a tendência de transformar estes cidadãos e cidadãs em massa de manobra.
Uma prática que tende a ser sistematicamente questionada. Por que? Cada vez mais temos mais informações, trocamos mais ideias, interagimos de maneira consciente nos ônibus, trens e bairros.
E estamos prontos para melhorar nosso sistema democrático. Com resultados que saberemos aferir através de investimentos diretos em Educação, na Saúde e na Segurança Públicas.
Afinal, somos quem coloca a mão na massa e somos maioria no sistema democrático. E, conscientes, conseguiremos impor nossos pontos de vista social e econômico.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ainda a televisão

Postado por Sivaldo da Silva Pereira, o Espirro
Na semana passada discutimos o mau uso que é feito das mídias, especialmente, as de grande impacto como a televisão. O retorno dos amigos e companheiros me estimulou a avançar mais um pouco no tema.
Os pais de família sempre às voltas para transferir qualquer gota de conhecimento útil para seus filhos se vêm numa batalha quase que perdida diante da brutalidade com que os meios de comunicação tratam a formação de nossos jovens.
A gente respira um pouco de civilização aqui e ali, nos programas da TV Cultura e do Canal Futura, com alguns respingos de aposta na formação através das iniciativas do programa do Luciano Huck, com os estímulos aos jovens em soletrar palavras. E só.
De resto só temos os dramas vazios das novelas, com tramas que destacam os pequenos golpes e os noticiários que cultivam suas audiências em cima da discriminação e dos desrespeito às pessoas. Os apresentadores são ao mesmo tempo Promotores, Juízes e Polícia.
Julgam e condenam todos os que caem nas suas telas em questão de minutos. Mas o fazem de maneira preferencial. Condenam mais rapidamente os mais pobres, mais pretos, mais nordestinos.
Basta noticiarem um crime em bairros elegantes que o personagem se transforma em empresário. Em vez da acusação direta, alegam que supostamente cometeram este ou aquele crime.
Quando colocamos na ponta do lápis os gastos que estas redes realizam com sua programação e descobrimos que todas elas são concessão pública, nos perguntamos até quando vão tratar nossa cidadania com tanto desrespeito.
Não queremos uma televisão estatal, com uma programação controlada por iluminados. Queremos apenas um mínimo de compreensão e bom senso dos responsáveis pelos conteúdos e que nos ajudem nesta árdua tarefa de construir nosso futuro.
Um futuro que poderia ser realimentado e organizado a partir da interação de parte desta programação com os jovens que estão retidos em nossas casas na falta de alternativa de formação ou de empregos.
Sei que é sonhar demais lamentar o dinheiro jogado fora nas programações cheias de Big Brother e outras coisas do gênero. Mas é importante que alguém registre o que vai pela alma dos pais e mestres, dos cidadãos e cidadãs, ávidos por um Brasil melhor.