segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Os grilhões dos impostos

                                                      por Sivaldo da Silva Pereira, o Espirro, secretário geral do 
Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá


No Chão de Fábrica não tem moleza. A gente pega no pesado pra valer. Qualquer descuido pode ser fatal. Mas, ao mesmo tempo, sentimos pulsar em nossos músculos a sequência geradora de riquezas.
Uma peça de metal inerte, fria e sem vida, passa por nossas mãos e pelas máquinas que operamos e sai brilhando valendo muito mais. Com uma nova serventia. Pronta para ser acoplada a outra peça e formar uma nova mercadoria que será útil para alguém.
Essa alegria de gerar riqueza, contudo, dura pouco. Mesmo sem ter muito conhecimento de economia e de manipulação das chefias e dos patrões, a gente sente na pele que gera muito mais valor do que o salário que recebe no final do mês.
E quando saímos da fábrica e voltamos para nossas vilas e nossas casas, uma aliança perversa se estabelece entre a produção que nos submete e o sistema tributário brasileiro.
Segundo levantamento feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), os 10% mais ricos concentram 75% da riqueza do país. Para agravar ainda mais o quadro da desigualdade brasileira, nós pobres e trabalhadores, pagamos mais impostos que os ricos: os 10% mais pobres do país comprometem 33% de seus rendimentos em impostos, enquanto que os 10% mais ricos pagam 23% em impostos.
E, apesar dos esforços da presidente Dilma para tentar debelar a miséria e a desigualdade, o fosso entre ricos e pobres só tende a se aprofundar com esta aliança entre as elites econômicas e a máquina arrecadadora do Estado.
Descobrimos, com os anos, que melhorar a renda é muito mais do que aumento real de salários. É preciso pagar menos impostos. Sejam eles municipais, estaduais ou federais.
Mas trata-se de um privilégio que beneficia apenas os ricaços. Os números do Ipea mostram que os impostos indiretos (aqueles embutidos nos preços de produtos e serviços) são os principais indutores dessa desigualdade.
Os pobres pagam, proporcionalmente, três vezes mais ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) que os ricos. Enquanto os ricos desembolsam em média 5,7% em ICMS, os pobres pagam 16% no mesmo imposto.
Já o IPTU (Imposto sobre Propriedade Territorial e Urbana) privilegia os ricos. Entre os 10% mais pobres, a alíquota média é de 1,8%; já para os 10% mais ricos, a alíquota é de 1,4%. Ou seja, as mansões pagam menos impostos que as favelas, que são mantidas sem os serviços públicos como água, esgoto e coleta de lixo.
O que fazer?
Desistir, jamais. Vamos conversar mais, trocar mais ideias, no Chão de Fábrica, nas vilas, nas conduções. Conscientizar nossos amigos, vizinhos e parentes. Para conseguir um dia nos libertar desta carga tributária. E fazer valer o lema: liberdade ainda que tardia.
Pois com menos impostos, diretos e indiretos, seremos mais iguais, mais livres e teremos sobras para investir em mais Educação e Saúde.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Vocês pensam que nos enganam


Mário Américo, ex-massagista da
Seleção Brasileira de Futebol

Por Sivaldo da Silva Pereira, o Espirro, secretário geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Pelas nossas mãos, assim como dizia o ex-massagista da Seleção Brasileira de Futebol, Mário Américo, “por estas mão”, numa propaganda do Gelol, pois bem, no Chão de Fábrica e através das nossas mãos criamos as riquezas que fazem nosso Brasil ser cada vez melhor.
Com nosso esforço continuado construímos, hora a hora, o orgulho de agregar valor às matérias-primas e transformá-las em peças de carro, em carros inteiros, em eletrodomésticos, em mercadorias que ao serem consumidas, nos confirmam, todos nós, como trabalhadores, cidadãos e consumidores.
Mesmo que não participemos inteiramente desta riqueza, pois nos sobra no final do mês uma merrequinha de salário, mesmo assim ninguém nos pode negar que somos a base de sustentação de toda nossa sociedade. Desde a origem da humanidade.
E talvez exatamente por sermos extremamente essenciais para a comunidade é que os meios de comunicação se esforçam tanto para nos apresentar sempre como desunidos e fragilizados.
É uma tentativa de manipulação cada vez mais boba, pois enquanto os grandes jornalões, canais de televisão e rádios criam programas para nos distrair da nossa realidade e nos levar a viver num mundo de faz de conta, meio abestalhados, cada vez mais estamos conscientes de nossa força e importância social.
No Chão de Fábrica só temos a alternativa sentir nossa importância de geradores de riqueza. Vivemos integrado à energia das máquinas. E somos nós que gerenciamos todo o processo produtivo. Se um de nós falhar, coloca tudo em risco. E não há manipulação da mídia que nos tire essa consciência de energia permanente.
Saímos do trabalho exaustos, mas realizados. O estresse que vivemos é porque o dinheiro é sempre menor que o mês. E é um desafio permanente cuidar do aluguel, da escola das crianças, dos remédios e do supermercado.
Mesmo faltando grana, não nos deprimimos. A alegria de viver faz parte do nosso DNA. E quando folheamos os jornais cheios de anúncios e com raras reportagens que nos animam a lê-las e nos postamos, cansados, diante de uma televisão vazia de conteúdos, sempre nos vêm à mente: essa elite pensa que nos engana.
Mal sabem que cada vez mais somos nós que fingimos que nos deixamos ser ludibriados. Pois temos a determinação de quem faz avançar, hora a hora, a História de nossa época. E a cada intervenção nossa de cada dia, seja na fábrica ou no bairro, no sindicato ou na urna, impomos, aos poucos nosso estilo de trabalhador e cidadão.
Enquanto isso, deixamos os patrões e as elites a seu serviço pensarem que nos enganam.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A cor da pele no Chão de Fábrica

Pedro Paulo em ação

Pedro Paulo da Silva, diretor executivo do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Tenho orgulho de ter nascido, sido criado e ainda viver vinculado à base da pirâmide social brasileira. 
É uma maneira diferente de me apresentar para vocês e confirmar que sou um trabalhador brasileiro, temperado na luta sindical e que aprendi a conviver de maneira pró-ativa com os meus companheiros e companheiras do Chão de Fábrica.
Aprendi, também, a ampliar a organização e disciplina do Chão de Fábrica  para os bairros e vilas, campos de futebol, botecos e rodas de samba. No meio do povão, sou peixe dentro d’água. 
E por isso eu sei que a cor da pele, a raça, a região do Brasil na qual fomos criados se dilui tudo na necessidade imperiosa de colaborarmos, uns com os outros pela sobrevivência. Dentro e fora de uma fábrica.
Seja no Chão de Fábrica, seja nas periferias, nas favelas ou nos cortiços a vida é duríssima. Mas nossos ancestrais descobriram como contornar a violência dos escravocratas, o desmando de alguns chefes, a exploração continuada de nossa mão de obra com muita troca de ideias e com a solidariedade irrestrita uns aos outros.
Quem tiver a oportunidade de percorrer uma linha de produção verá o Brasil real gerando riquezas. Todas as cores, religiões, hábitos, jeito de falar estão ali. Todos se respeitam porque sabemos que somos elos essenciais da cadeia produtiva.
Mas quando saímos do Chão de Fábrica e olhamos para a televisão temos a impressão de estar em turismo em algum país nórdico, que controla alguma colônia do terceiro mundo. Aos negros, são delegados os papéis secundários, com honrosas exceções. Aos nordestinos, índios, sulistas e gente do campo cabem apenas os estereótipos.
Mesmo sentindo o impacto da exclusão não temos tempo para frustração, porque no dia seguinte, no Chão de Fábrica, retomamos o vigor de nossa importância produtiva e social. Ali, provamos valor e somos parte integrante da riqueza gerada.
Talvez nos falte o hábito de pressionar as instâncias democráticas que existem do lado de fora da fábrica. Exigir tratamento igual para todos nós. Mas já temos feito isso sem muito resultado.
Por isso, a partir de espaços como este, vamos nos organizar para impor, com o poder de nossos bolsos combinados, com a energia concentrada em nossas carteiras de trabalho e o vigor de nossos títulos eleitorais uma radical mudança na sociedade brasileira.
Começamos hoje a construir um novo Brasil, em que o trabalhador e trabalhadora, seja integralmente respeitado. Tendo oportunidades iguais não apenas para ser mais um braço mas principalmente para ser mais um cérebro. Exigiremos boas escolas, boa saúde, bom respeito para todas as raças, regionalismos e religiões que hoje pulsam no Chão de Fábrica.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Torcida social

A gente pode passar o dia inteiro falando abobrinhas no ônibus, na fábrica, nos encontros com nossos vizinhos. E deixar a vida nos levar sem ter uma opinião formada sobre nada.
Ou pode dar uma direção às nossas vidas nos ambientes em que reproduzimos nossas vidas, ou seja, no chão de fábrica, na condução, na igreja ou na vizinhança.
Mas para dar um rumo na vida temos que saber para onde queremos ir. E quando escolhemos nosso destino, aprenderemos a construir nosso caminho ao caminhar.
Parece simples, mas exige de nossa parte um pouquinho de disciplina.
Em vez de sermos apenas os reprodutores dos assuntos sem sentido dos programas humorísticos ou dos resultados do nosso time de futebol, podemos nos preocupar, também, com a situação da escola dos nossos filhos, por exemplo.
Vamos descobrir que quando nos preocupamos descobrimos maneiras diretas de avaliar as informações. Da mesma maneira que conseguimos nos informar sobre a situação dos nossos times no campeonato.
Aprendemos, também, a fazer com que nossas informações cheguem aos gestores da escola de nossos filhos, do pronto socorro do bairro ou da cidade ou do posto policial.
Descobriremos, você verá se tentar, que cada ação leva a outra ação e assim construímos nossa estrada social ao caminhar. E deixaremos para trás aqueles papos furados e sem sentido e os substituiremos por trocas coletivas de ideias e influenciaremos os rumos da política em nossa cidade, em nosso bairro e até mesmo o ambiente produtivo na fábrica, escritório ou loja que trabalhamos.
Porque vale a famosa regra, se não temos opinião sobre nada, vamos acabar seguindo a opinião de terceiros. E, acredite, existe um batalhão de pessoas trabalhando incansavelmente para nos alinhar com o seu jeito de pensar.
Por exemplo, para muitos patrões e uma parte da elite interessam que reforcemos suas teses de um Estado incompetente. Para esse pessoal, quanto mais fragilizado o Estado, mais espaço sobra para eles fazerem negócios de interesse privado.
Por isso, reserve parte da conversa com seus amigos para tratar também de assuntos que têm a ver com nossa vida. Vamos continuar, claro, falando do nosso time do coração ou da novela que gostamos de assistir. Mas vamos conferir com nossos companheiros de trabalho ou vizinhos o que achamos sobre a administração da cidade, da escola de nossas crianças e da segurança do bairro.
E vamos arrumar um jeito de deixar o prefeito e os vereadores saberem o que pensamos. Através de envio de e-mails, cartas ou mesmo telefonando para o gabinete do vereador ou do prefeito.
Se cada um de nós se transformar num torcedor fanático de nossa vida social vamos conquistar o campeonato de cidadania. Com retorno de curto prazo na nossa qualidade social de vida. Duvida? Então, comece hoje mesmo a controlar o seu próprio destino.
Sivaldo da Silva Pereira, o Espirro, secretário geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Cadê as mídias do Chão de Fábrica?

por Sivaldo da Silva Pereira, o Espirro, secretário geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá
Os trabalhadores do Chão de Fábrica são bombardeados todos os dias com noticiário que faz parte da manipulação das elites, na esperança de manipularem nossas vidas.
Acreditamos que as elites, os patrões, empresários e governos temem que acordemos para a famosa frase de William Shakespeare, o mais importante autor teatral de todos os tempos, que escreveu: "É estranho que, sem ser forçado, saia alguém em busca de trabalho."
Sim, muito estranho.
Mas, nós trabalhadores temos um propósito que vai muito além do lucro imediato do patrão. Nosso compromisso é com a reprodução da espécie humana, com a criação dos nossos filhos, com a aposta no futuro da humanidade.
Mesmo assim continuamos na nossa batalha diária. Ampliando com as negociações salariais e através das conquistas via Congresso Nacional, os espaços de decisão a favor dos trabalhadores.
Traduzimos estas conquistas em benefícios sociais e trabalhistas, como o 13o. salário, as férias, a licença maternidade. E nos preparamos, agora, para ampliar nossos direitos com as 40 horas semanais, sem redução dos salários. E vamos lutar até o último voto dentro do Congresso Nacional para colocar um fim no Fator Previdenciário.
De uma certa maneira, portanto, estamos vacinados contra as manipulações que os empresários tentam nos impor através dos meios de comunicação. E lamentamos, apenas, que não exista uma política editorial que leve em consideração as necessidades estratégicas da classe trabalhadora.
Afinal, somos consumidores de mídia. E se fôssemos respeitados com conteúdos jornalísticos que nos ajudassem a melhorar nossa formação e visão de mundo, muito provavelmente se refletiria no aumento da tiragem dos jornais.
Atualmente, os jornalões estão com circulação em queda vertiginosa. Culpa-se a internet. Pode até ser. Mas enquanto não se investir mais em conteúdo que tenha a ver com a realidade econômica dos trabalhadores e trabalhadoras do Chão de Fábrica, que leve em conta nossa vida nos aglomerados urbanos, nossas dificuldades cotidianas com a Educação dos nossos filhos e filhas e com a segurança em nossas comunidades, acreditamos que a tendência de queda nas tiragens vai continuar.
Felizmente, aqui e ali surgem iniciativas que começam a levar em consideração nossos pontos de vista. Que, acreditamos, ajudará a posicionar estes veículos mais agressivos junto a uma nova classe trabalhadora. Que sustenta o mercado interno e que ajuda a consolidar, pela primeira vez em mais de 500 anos, uma nova classe média brasileira.