quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O jogo salarial no Chão de Fábrica

Por Sivaldo da Silva Pereira, o Espirro, secretário geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Nas campanhas salariais o humor, o cheiro, as piadas, o comportamento na hora do almoço ou da janta, tudo muda e ganha uma tensão típica de trabalhadores ansiosos com os desdobramentos dos acordos que sabem que estão sendo continuamente amadurecidos em alguma sala bem iluminada, com cadeiras confortáveis, nas quais se sentam os representantes do Sindicato e do setor patronal.
Com a mesma eficiência da Rádio Peão que retransmite as etapas das negociações que o Sindicato encaminha, a Rádio Chefia também tem experiência em espalhar seus rumores.
A gente sabe que a notícia vem da Rádio Chefia porque as informações são sempre negativas e com ameaças embutidas. “Dependendo do aumento negociado vai ter cortes” é uma das ameaças mais comuns. Resultado: a tensão salarial só aumenta. Mas o jogo de informação e contra-informação se mantém.
Independente do chororô dos chefes e gerentes, a peãozada se mantém atenta aos indicadores que nos mostram que a economia vai bem. Um deles é o nervosismo produtivo da chefia. Numa economia aquecida os chefes estão sempre agitados, ansiosos por cumprir metas, preocupados com a qualidade final e com os prazos para fechamento do lote de pedido.
É aí que a peãozada percebe que por mais que se esforce a Rádio Chefia na divulgação de boatos negativos que o que vale mesmo é o que nos chega da Rádio Peão. Pois, através dos diretores do Sindicato, do que lemos nos jornais ou na internet, e combinado com o nervosismo da chefia, a gente vê que a fábrica e o setor econômico que ela está inserida vai muito bem obrigado.
Percebemos, também, que há clima para apoiar as decisões do Sindicato no caso de uma proposta de greve. A gente sente na chefia o medo de um atraso, de uma paralisação de uma hora sequer. Imagina uma greve de um ou dois dias, de duas ou três semanas?
E o jogo salarial continua. Apesar de tensos, mantemos as indiretas e nossa disposição de defender a parte que nos cabe nestes imensos lotes de peças produzidas. E, sempre que podemos, deixamos claro para as chefias que também vão se beneficiar com os aumentos que nós, a peãozada, vamos conquistar através das negociações sindicais.
E neste baile salarial com piadas e indiretas, com ameaças de demissões das chefias e alertas de greve dos trabalhadores, criamos o caldo que será a referência dos representantes do Sindicato e dos Patrões. Até que se concluam as negociações, os acordos sejam assinados e surja uma nova Convenção Coletiva.
Que os trabalhadores querem sempre com o repasse da inflação mais aumento real e os patrões vão tentar sempre puxar a sardinha do lucro apenas para os seus bolsos.

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