quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O jovem e a memória do Chão de Fábrica

Postado por Geovane Correa de Souza, diretor executivo do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

É grande a presença de jovens no Chão de Fábrica. Continuam a chegar das mais diferentes regiões do Brasil, como seus pais e avós. Trazem muito mais leitura, alguns diplomas técnicos e, muitas vezes, são vítimas preferenciais da falta de memória ambiente. Muitos são filhos de pais e mães que aposentaram aqui mesmo.
Não interessa para os empresários e seus gerentes resgatar para este pessoal que cada situação favorável, a exemplo do décimo terceiro salário, transporte de casa até o portão da fábrica, assistência médica, PLR, um terço de férias e, licença maternidade de quatro meses, entre outras conquistas, foram realizadas com muito esforço dos companheiros e companheiras, que tinham mais ou menos a mesma idade que os jovens que chegam hoje ao Chão de Fábrica.
Nós, hoje com mais de 40 anos, lutamos por tais conquistas porque de tabela tínhamos uma agenda mais ampla que era derrubar a ditadura militar, controlar a inflação e garantir a liberdade sindical.
Por isso, é cada vez mais importante que nossos jovens do Chão de Fábrica incluam nas suas preocupações as grandes agendas nacionais, de interesse da classe trabalhadora brasileira. Porque a gente quer muito mais do que comida, transporte adequado e décimo terceiro salário.
A gente tem na pauta as 40 horas semanais, sem redução de salário, o Fim do Fator Previdenciário e a assinatura, pelo governo brasileiro, da Convenção 158, para acabar com a sangria desatada que a rotatividade faz com nossa massa salarial. Os patrões se sentem muito à vontade para demitir em massa e impor salários menores aos que são recém-chegados.
É claro que são agendas com menor apelo emocional. Lutar pelas 40 horas semanais não é a mesma coisa que ir para as ruas protestar contra a ditadura militar, com os riscos que seus pais e tios, mães e tias, enfrentaram de serem presos ou até mesmo mortos.
Mas estamos em novo estágio. Agora, com a liberdade sindical assegurada e com o acesso que temos à tecnologia, aos e-mails e telefones celulares podemos nos mobilizar com muito mais facilidade a favor de conquistas que serão essenciais para o futuro de nossas crianças.
E não estaríamos fazendo nada demais. Estaríamos, apenas, mantendo a roda da História em funcionamento, assim como fizeram nossos pais e avós.
Por isso, da próxima vez que você se sentir confortavelmente instalado no ônibus que te traz para o emprego ou enviar seu filho para o médico do convênio ou planejar os gastos do seu PLR ou 13° salário, lembre-se que foram conquistas árduas.
Agradeça, mesmo que mentalmente, os trabalhadores e trabalhadoras que ocuparam este mesmo Chão de Fábrica antes de você. Cada conquista que você desfruta hoje foi arrancada dos patrões e dos governos. E para mantê-las e ampliá-las precisamos estar dispostos a continuar a luta. A favor do seu bem-estar e para garantir direitos que serão repassados para seus filhos e filhas.

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