sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Chão de Fábrica em festa

Por Sivaldo da Silva Pereira, o Espirro, secretario geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Sim, estamos em festas mesmo mantendo a rotina, a produção e a produtividade. Nós, trabalhadores do Chão de Fábrica, somos os elos emocionais com nossas vilas, clubes, condução, igrejas e a parentada toda. Por isso, nosso coração, nesta época do ano, pulsa ao som de Natal e de Ano Novo.
A fábrica aqui e ali tem um espaço deixado vazio por um companheiro ou companheira que está de férias. Muitos voltam para suas terras de origem. Animados e cheios de histórias para levar, além dos presentinhos e lembranças para os parentes. E voltarão cheios de energias, de mais histórias e, principalmente, muito mais ligados nesse nosso querido Brasil. Porque somos também parte do tecido que garante que essa Nação brasileira pulse sempre com euforia, alegria e disposição de vencer crises e épocas ruins.
É uma época que devemos também estar atentos às nossas famílias e aproveitar as festas mas sem exagero. Porque basta um descuido ao volante, uma dose a mais de álcool, uma bravata qualquer no fim de uma festa para azedar o ano e até mesmo a vida.
Por isso, nestas épocas do ano temos que apostar na alegria mas sem perder a atenção para com nossos filhos, amigos e parentes. Cuidar uns dos outros para que sobrevivamos a 2011 e consigamos, em 2012, estar prontos e preparados para as grandes batalhas que teremos à frente.
Porque é essa a nossa vida de trabalhadores e gladiadores modernos. Somos linha de frente da geração de riquezas e se conseguimos ficar eufóricos com o que nos sobra de tanta riqueza que geramos, é porque somos brasileiros e além de não desistir nunca, temos a alegria em nosso DNA.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Responsabilidade financeira


Por Sivaldo da Silva Pereira, o Espirro, secretario geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

A euforia já tomou conta do Chão de Fábrica. Estamos com a sensação gostosa de uma conta gorda, enquanto cumprimos nossas tarefas de um mês, que com certeza, será muito menor que o salário. Além do reajuste e do abono, teremos PLR e 13o e muitos terão adiantamento das férias e férias.
Já acertamos os pequenos empréstimos uns com os outros. Já planejamos as prestações, os gastos com a ceia de Natal. Estamos na cômoda situação de contas equilibradas. Por isso, a tentação é muito grande nesse período. Olhamos com olhos de cobiça para aquele carrinho que nem sequer notávamos antes. A TV de LCD volta a brilhar e a nos chamar quando entramos nas lojas ou nos supermercados. O tênis caro dos nossos filhos também nos chama a atenção.
Mas é hora também de responsabilidade financeira.  Consumir, sim, afinal o mercado interno depende de nossa atuação como consumidores, brasileiros, trabalhadores e patriotas. Mas também temos a responsabilidade de gastar bem um dinheiro que é fruto de nosso trabalho duro, ao longo do ano todo.
Ter a disciplina de pesquisar e comparar preços, de não nos deixarmos levar pelo impulso e, principalmente, controlarmos nossa vaidade no momento da compra. Será que precisamos mesmo de um novo aparelho de LCD ou só estamos comprando porque nosso vizinho também comprou? Será que precisamos mesmo de um celular extra ou só compramos porque todo mundo tem agora dois celulares e não queremos ficar para trás.
Se a gente aprender a controlar os impulsos vai sobrar, com certeza, uma reserva que poderemos manter ao longo do ano. Reserva que poderemos investir e reinvestir para ter sempre uma proteção extra para nós e nossa família. Proteção cada vez mais necessária nestes momentos de crise mundial que não sabemos, ainda, se vai ou não afetas nossos empregos e salários.
Isso se chama responsabilidade financeira. Essencial para que aos poucos, mesmo como assalariados, possamos construir nossa independência financeira. Em vez de sermos consumistas irresponsáveis, que compra sem pesquisa, apoiados na vaidade pessoal em vez da responsabilidade para com nossa família e nosso futuro.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Dezembro no Chão de Fábrica

Sivaldo da Silva Pereira, o Espirro, secretario geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Todo mês de dezembro vivemos quase que em estado de graça no Chão de Fábrica. A campanha salarial chega a um resultado que realimenta nossas energias e disposição de lutar por mais ganhos, mais PLR, mais investimentos na nossa qualidade de vida.
E quando pensamos na vida focamos nos filhos, filhas, nos cônjuges parceiros de uma vida toda. E pensamos, mesmo ali no batente, suados, tensos e atentos à rotina pesada da fábrica, pensamos nos presentinhos que daremos para cada uma das pessoas amadas.
Vamos arrumar tempo para buscar aquele tênis para as crianças. Vamos reavaliar as contas e ver se encaixa uma jóia ou quem sabe até mesmo uma viagem de avião para a terrinha dos nossos pais ou sogros.
Porque agora, nestes tempos festivos de Natal e Ano Novo, o que a gente quer mesmo é ser feliz sem muita preocupação.
Mesmo tendo consciência que é temporária essa alegria porque reforçada pela nossa religiosidade e espírito de família combinados e porque também é dezembro e tem décimo terceiro e antecipação salarial. Por tudo isso, o Chão de Fábrica brilha que nem árvore de Natal.
E junto com nossos camaradas nos sentimos, de verdade, os verdadeiros donos deste nosso imenso Brasil. Que sabe reconhecer nosso esforço e que nos retribui com o carinho de outros brasileiros e brasileiras, ao transformar cada contato na fábrica, no ônibus, no supermercado num hino à nossa Pátria.
É gostoso demais ser brasileiro em dezembro. Curtir por antecipação as festas e até mesmo as brigas em família. E contar nos dedos quantos dias faltam para os  feriados que descansaremos junto com as pessoas que amamos.
É bom demais saber que vamos começar um novo ano em que a esperança vai se transformar em projeto. E o projeto em novas realidades palpáveis, através da matrícula numa faculdade, da formatura de um filho, da felicidade contida de uma mãe.
É assim que cada um de nós no Chão de Fábrica, gente simples, que acumula em cada gesto a sabedoria de várias gerações, renova nossas energias para continuar a construir o Brasil, entra dezembro e sai dezembro. Sempre animados e alegres. Porque somos brasileiros e temos uma fé imensa em nós mesmos e em nosso País.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Racismo no Chão de Fábrica

Por Sivaldo da Silva Pereira, o Espirro, secretário geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Diminuiu muito o preconceito racial no Chão de Fábrica. Mas, infelizmente, ainda existe. Por isso, neste 20 de Novembro, data em que se comemora a Consciência Negra voltamos nosso olhar para nossos companheiros e companheiras negros.
Ser negro é ser condenado a uma carreira mais lenta, com menos promoções e a ser mantido por mais tempo que os companheiros de outras raças em serviços mais penosos.
E se você perguntar para as chefias e para o RH todos negarão que o motivo que se aloca, preferencialmente, negros para serviços mais pesados, com salários menores e em posições com menores chances de promoção é acidental.
Mas basta dar uma olhada geral no Chão de Fábrica e ainda vamos perceber núcleos de trabalhadores negros e negras honrosamente cumprindo suas funções diferenciadas, exatamente por serem negros. E mesmo assim, mantêm a solidariedade e a alegria de trabalhar ao lado de colegas que têm melhores chances apenas por não serem negros ou pardos ou mulatos.
É uma situação que vai muito além do famoso discurso de democracia racial brasileira. Pois enquanto tivermos o preconceito racial contra os negros disfarçados em tapinhas nas costas mas confirmados com funções secundárias e degradantes, com restrições na evolução da carreira profissional, temos muito a debater e a denunciar o nefasto preconceito racial.
Porque o preconceito institucionalizado nos ambientes de trabalho, além de ser social e humanamente condenável, prejudica a qualidade de vida dos negros brasileiros, desde os locais de moradia, nas oportunidades educacionais e até mesmo no Chão de Fábrica, onde a lógica da própria produção exige igualdade e tratamento mais justos.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Os trancos do Chão de Fábrica

Elenísio Almeida Silva, o Leo, diretor do Departamento de Saúde do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Enfrentamos, todos os dias, uma parada dura no Chão de Fábrica. E muitas vezes as doenças profissionais se instalam. E, nestes momentos, é hora de tomarmos todos os cuidados para nossa plena recuperação.
O jogo é pesado e não podemos (nem devemos) trabalhar contundidos. Prejudica nossa saúde mais ainda e coloca em risco também a saúde de nossos companheiros e companheiras, pois podem precisar de nossa ajuda, com urgência, e não podemos falhar.
Mas na hora que o peão adoece a tendência é achar que se trata de uma doença desvinculada do trabalho. É estranho mas temos esse estranho hábito de assumir todas as culpas do mundo.
Se for uma doença contraída sem ter nenhuma relação com as atividades que exercemos, o INSS a classifica auxílio doença que tem o código Espécie 31. E nos casos mais graves, um afastamento de 15 dias ajuda na recuperação. Se for necessário, podemos ficar afastados durante 60 dias e temos a garantia, em nossa Convenção, de estabilidade de 60 dias.
Mas se for uma doença ocupacional, o INSS classifica como Espécie 91, e em vez do auxílio doença, receberemos o auxílio acidente. Com a grande diferença de além do afastamento necessário termos garantido em Convenção a estabilidade de 21 meses, sempre renováveis enquanto não estivermos plenamente recuperados.
Claro que não temos a obrigação de saber em que tipo de situação nos enquadramos. Por isso, se você se acidenta no Chão de Fábrica ou está com uma doença que seus médicos consideram grave, em vez de tentar resolver por conta própria, procure o Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá.
Temos um Departamento de Saúde que poderá orientá-lo a proteger sua saúde e seus direitos. Porque em casos de doença, seja ocupacional ou não, muitas vezes a informação é o melhor remédio.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Do Mobral à Universidade Federal do ABC

Sivaldo da Silva Pereira, secretário do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Nas décadas de 70 e 80, os trabalhadores que chegavam do resto do Brasil todo em busca de uma oportunidade, um empreguinho e a construção de seus sonhos de vida tinham como ponto de apoio o Mobral,  que depois virava Madureza do ginásio e do colegial.
Os trabalhadores mais empenhados completavam sua formação no Senai ou num curso técnico. E os mais determinados ainda, pois não tinham apoio de espécie alguma, conseguiam chegar a um curso universitário.
Com a determinação e formação conseguidas com o próprio esforço nos tornamos uma classe trabalhadora de vanguarda. Mudamos, com nossa participação no Chão de Fábrica e com nossas vivências comunitárias e políticas a realidade do Grande ABC e do Brasil.
Não foi à-toa que daqui surgiu um presidente da República que pela primeira vez “na história deste País”, como sempre foi o discurso de Lula, adotamos políticas públicas que tiveram um impacto determinante em nossas vidas sociais e econômicas.
E uma das grandes mudanças, que confirmamos com o apoio de Lula, foi a criação da Universidade Federal do ABC. Um avanço e tanto que precisa ser confirmado por parcerias cada vez mais inadiáveis entre as administrações públicas municipais e as organizações sociais a favor da nova etapa que o Grande ABC está destinado neste Século 21.
Porque para nos inserirmos de fato no ambiente que a Universidade Federal do ABC é preciso que mais do que ingressar na universidade, que tenhamos também a oportunidade real de os conteúdos da universidade fazer parte de nossas vidas.
Sabemos pelos contatos que temos com o professor doutor Jorge Tomioka, um amigo nosso, que há sim a vontade e a disposição do corpo docente da universidade de se integrar com nossa cidadania.
Mas através de quais mecanismos sociais? Através de que instituições? Em que ambientes? Nas fábricas, nos sindicatos, nas igrejas ou nas vilas?
A hora é agora de se criar os canais para que enquanto trabalhadores e suas entidades, assim como organizações sociais (ONGs, associações de moradores, partidos políticos etc) possamos acelerar o aproveitamento das oportunidades que emergem no Século 21.
E diferentemente dos tempos do Mobral, para aproveitarmos os conteúdos exaustivamente produzidos pela Universidade Federal do Grande ABC temos que criar os canais sociais de interação e vinculação do saber produzido com nossas expectativas e realidades sociais.
No Chão de Fábrica olhamos para o mundo ao nosso redor, no Brasil e no Exterior, e percebemos que muito mais que o saber digital, nestes tempos de internet banda larga, celulares de última geração e sites de pesquisa que é preciso acumular conteúdos e reflexões que resolvam, a curto e médio prazos, nossos problemas na fábrica, nas vilas, na nossa capacidade confirmar soluções que melhorem nossa qualidade de vida.
Conteúdos que só podem se ajustar aos nossos sonhos e à nossa realidade a partir do envolvimento pró-ativo de nossa parte em torno da Universidade Federal do ABC.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Família do Chão de Fábrica




Sivaldo da Silva Pereira, o Espirro, Secretário Geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Ao longo dos anos nós trazemos, aos poucos, os filhos de nossos amigos, nossos parentes mais próximos e até mesmo os cunhados para a convivência no Chão de Fábrica.
Nós carregamos a fábrica, suas histórias e nossas aventuras para casa. Junto com o suado pão nosso de cada dia sempre temos histórias de superação para relatar, desafios que as chefias nos propõem, novas tecnologias que chegam e máquinas que se tornam verdadeiros quebra cabeças a serem resolvidos sem interromper a produção.
Essas aventuras operárias são relatadas nos campos de futebol, nas festas de aniversário, nas rodas de cerveja e até mesmo nas igrejas que frequentamos. É natural, portanto, que nossos jovens, filhos e afilhados, cresçam sob a influência do Chão de Fábrica e ansiosos em se juntarem à nossa batalha diária pela sobrevivência.
É um hábito que faz parte da história operária, desde quando as fábricas começaram a existir na Inglaterra. As famílias operárias são as principais fornecedoras de mão de obra e conseguimos, com isso, manter a harmonia e a cooperação dentro e fora das fábricas.
Do ponto de vista cultural é excelente termos lideranças do Chão de Fábrica que também são respeitados nas suas vilas. Quando acontece um casamento ou um nascimento, todos nós somos mobilizados. Para os casamentos surgem os padrinhos e as listas de presentes. Quando nasce uma criança a disputa é grande para ver quem será o padrinho ou madrinha.
A realidade do Chão de Fábrica é dura, o ganho é pouco, mas o espírito de camaradagem é imenso. Construímos e solidificamos nossa solidariedade todos os dias. E se somos uma família ampliada é porque o próprio sistema produtivo em que vivemos nos junta nos mesmos bairros, nas mesmas fábricas, nas mesmas conduções.
Do limão do ajuntamento fazemos, então, a limonada da família ampliada do Chão de Fábrica. Com muita troca de ideias, apoio mútuo e disposição para ajudar sempre uns aos outros. Ajuda que se materializa, por exemplo, quando nos juntamos para encher uma laje. Mais de 40 companheiros aparecem e em três ou quatro horas a laje está pronta. Só com a energia da amizade temperada no Chão de Fábrica. É assim que consertamos os carros uns dos outros. Ou fazemos o acabamento de nossas residências.
Uma história famosa é o fato de João Avamileno, nosso ex-prefeito, ter sido o eletricista que fez a fiação da casa do nosso companheiro José Cicote. O Chão de Fábrica consolida para toda uma vida nossas alianças.