sexta-feira, 21 de outubro de 2011

As emoções do Chão de Fábrica


Por Aldo Meira Santos, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Quando a gente vê imagens de operários no Chão de Fábrica usando protetores de ouvido é porque realmente eles precisam destes equipamentos. Raras fábricas são silenciosas. As máquinas, a energia ambiente, o corre-corre tudo contribui para um ruído muitas vezes assustador. E a proteção dos ouvidos é essencial para a se manter a boa saúde.
Mas mesmo com a barulheira geral, muitos estão ali com os ouvidos sensíveis às músicas que ouviram na noite anterior, no ipod ou no radinho de pilha,  ou hoje mesmo no caminho entre suas casas e o trabalho.
Outros se inspiram para os compromissos que terão como pagodeiros, como músicos e cantores de suas igrejas, e todos, artistas ou não, são as plateias fiéis e atentas ao que rola pelo universo da músicas popular ou religiosa.
Porque no Chão de Fábrica somos muito mais do que operários que apertam botões. Somos cada vez mais homens e mulheres completos, atentos à poesia de uma canção e preparados, muitas vezes por conta própria, para criarmos nós mesmos nossas próprias músicas e ritmos.
E quando terminamos nossos expedientes arrumamos energia para nos reunir com amigos e vizinhos, para curtir juntos em casa ou na igreja, nossa arte de cada dia.
E não pensem que vivemos só de músicas. Tem companheiros e companheiras que participam de teatros e de corais. Que se envolvem com ONGs para estimular o aprendizado musical em suas comunidades. E que arriscam alguns versos, dos bons, para as plateias sempre atentas nos ônibus que nos conduzem ao trampo.
Essa dinâmica cultural no Chão de Fábrica nos humaniza. E se as adotamos com as próprias energias (apesar da falta de tempo) é porque não temos acesso a ambientes culturais nos nossos bairros.
Faltam teatros, cinemas, clubes dedicados às artes e, principalmente, que gerem espaços para nossos artistas operários. Somos obrigados a engolir o que a TV tenta nos impor, geralmente de qualidade duvidosa.
Por isso, sempre estamos atentos aos nossos artistas do Chão de Fábrica. Porque eles (e elas) refletem nossas angústias e esperanças, nos emocionam com tiradas ora alegres ora tristes, e falam diretamente às nossas almas. Ali, bem pertinho, ao vivo, amenizando nossa vida dura com poesia, canções e músicas emocionantes.

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